28 de dezembro de 2008





onde moro tem abacateiro, pé de acerola, pé de romã e muito passarinho. ontem mesmo encontrei um mortinho de barriga pra cima bem embaixo da minha janela (claro que era debaixo da minha janela né!). concluímos o óbito; o pobrezinho voava num dia cinza, não enxergou o muro e plaft. espatifou-se. no chão e desacordado não conseguiu sobreviver a tanta chuva. (exercitar a morbidade de vez enqdo faz bem!)
aí que aproveitando os poucos minutos de sol nesse verão tão, tão típico fiz fotinhas do pé de acerola. arvorezinha forte e obstinada que sobreviveu a duas meninas gulosas que deixaram o pé limpinho na última safra e voltou com acerolas maiores ainda. aberta a temporada de suco de acerola bem gelado. viva o verão!

c'est la vie



"Muito cedo na minha vida ficou tarde demais. Quando eu tinha dezoito anos já era tarde demais. Entre dezoito e vinte e cinco meu rosto tomou uma direção imprevista. Aos dezoito anos envelheci. Não sei se é assim com todos, nunca perguntei. Creio que alguém já me falou dessa investida do tempo que nos acomete às vezes na primeira juventude, nos anos mais festejados da vida. Esse envelhecimento foi brutal."


marguerite duras - o amante







20 de dezembro de 2008

pra conversa do bar.



aventuras do ser
no nada
(quem tem náuseas de Sartre?)


_ Vim te matar.
_ A essa hora? Pra quê?
_ Soube que você está escrevendo matéria sobre Sartre.
_ É pecado?
_ Em Curitiba, só eu posso escrever sobre Sartre.
_ Com o perdão dessa arma apontada para mim, não sei o que vocês vêem nesse francês com cara de sapo, que acabou a vida mijando nas calças, num pileque contínuo.
_ Vê lá como fala.
_ Falo como Sartre falaria, diante de uma arma. Como você acha que ele falou, quando a Gestapo o prendeu, na Resistência?
_ Esse não me interessa.
_ Ah! Você prefere o Sartre das palavras.
_ Fora das palavras, não há salvação.
_ Abaixe essa arma, pare de bobagem, sente e vamos conversar sobre.
_ Está bem. Mas um gesto, e eu transformo seu para-si em em-si.
_ Enquanto você elucubra aí, não se incomoda se eu terminasse de ler isso aqui?
_ Sobre o que é?
_ Adivinhe?
_ Ah, sei.
_ Que é que você acha disso: “Sartre é o último filósofo grego. Depois dele, só são possíveis MacLuhans”.
_ Não acho nada.
_ “Teórico e ficcionista, antes de tudo, teve pela ação e pela militância um amor não correspondido: todas as suas agitações políticas, em termo de ação, sobre a sociedade francesa, foram menos que um fracasso. Foram apenas o nada”.
_ Continue.
_ “Contra o existencialismo, Sartre cometeu o crime supremo. Escreveu O ser e o nada, vasto tratado, suma teológica de uma doutrina filosófica que exalta a experiência individual, anti-teórica e contrária a toda e qualquer suma teológica. Cedo, Jean Paul percebeu que a forma perfeita para a exposição de suas teorias já existia. Não era o discurso conceitual de seus mestres, o teutônico delírio conceitual de O Ser e o Tempo, de seu mestre germânico Heidegger, o estilo de jogo de Kant e de Hegel. O existencialismo, por sua própria natureza, só poderia ser exposto através da ficção. Do conto. Da novela. Do romance. Com Sartre, a ficção transformou-se no gênero literário (textual) do existencialismo, veículo ideal de seus princípios”.
_ Prossiga. Ainda lhe concedo uma página.
_ “Difícil dizer, em Sartre, se é o filósofo que abastece o escritor ou o escritor que abastece o filósofo. De qualquer forma, o autor de A Náusea deu á literatura o status e a dignidade da filosofia. E, naturalmente, à filosofia, a cor e o movimento da literatura. Criou conceitos que se tornaram, em nossa época, moeda comum. A expressão “engajamento” foi ele que criou. “Autenticidade”. “Angústia”. “Má consciência”. “Escolha”. E teve dois amores: Simone de Beauvoir e o marxismo...”
_ Pare aí, senão...
_ Deixe eu pular para: “A invasão da Hungria pela União Soviética, para sufocar um movimento popular e nacional, fez com que Sartre rompesse seu alinhamento com a URSS stanilista. Como teórico, aliás, não deve ter sido fácil a tarefa das “caves” post-guerra, cheias de pré-beatniks, camisas de gola enrolada, barbas por fazer, jazz e álcool na cuca. Seus filhos, depois seriam, nos Estados Unidos, “beatniks”. E seus netos, os hippies”. O existencialismo é a metafísica do individualismo ocidental e capitalista”.
_ Pare, senão eu atiro.
_ Não atire. Eu me rendo, digo aqui que “O problema teórico de Sartre foi, sendo existencialista, isto é, seguidor de Kierkegaard, assumir um pensamento hegeliano, como o marxismo. Existencialismo e Hegel não combinam. Para Hegel e o marxismo, saído dele, o concreto é o geral: a classe social, o sindicato, o Estado. O particular e o individual não passam de abstrações. Para Kierkegaard de o Existencialismo é exatamente o oposto. O geral é abstrato. O individual é concreto. Sartre nunca conseguiu resolver essa contradição. Ainda bem. Ao que tudo indica, não tem solução”.
_ Fique aí onde está.
_ “O interessante em Sartre é que esse conflito filosófico de grandes proporções acaba sendo pai e mãe de sua ficção e seu teatro, única saída que achou para conciliar Hegel e Kierkegaard”.
_ Mais uma dessa não vou aturar.
_ “No fundo, o existencialismo de Sartre é a tradução da impotência política da intelectualidade francesa, no quadro histórico da França do pós-guerra”.
_ Não é o bastante.
Um tiro na noite é coisa que quem dorme nem nota.

paulo leminski – anseios crípticos 2

19 de dezembro de 2008

toys by cris


ai ai ai que delícia.
meus gatinhos estão no Goma.
era uma leva tão despretenciosa, brincadeira mesmo,
mas que agora pode até virar coisa séria! passem por lá

goma - cultura em movimento
av. floriano peixoto, 12

18 de dezembro de 2008


Consciência Cósmica

Já não preciso de rir.
Os dedos longos do medo
largaram minha fronte.
E as vagas do sofrimento me arrastaram
para o centro do redemoinho da grande força,
que agora flui, feroz, dentro e fora de mim...
Já não tenho medo de escalar os cimos
onde o ar limpo e fino pesa para fora,
e nem de deixar escorrer a força dos meus músculos,
e deitar-me na lama, o pensamento opiado...

Deixo que o inevitável dance, ao meu redor,
a dança das espadas de todos os momentos.
E deveria rir, se me restasse o riso,
das tormentas que pouparam as furnas da minha alma,
dos desastres que erraram o alvo do meu corpo...

João Guimarães Rosa - Magma

16 de dezembro de 2008

atendendo a pedidos


atentendo a pedidos, segue a receita do chutney de manga.
o meu faço de olhos fechados e sempre com pitadas aqui e salpicando temperinhos ali, mas a receita oficial aí sempre dá certo. não uso uva passa, mas quem gosta pode colocar, mesmo porque, todas as receitas levam. é isso. boa sorte e espero os convites para experimentar!

chutney de manga
Ingredientes:
6 mangas graúdas
1 cebola média
2 e 1/2 xícaras de vinagre
2 xícaras de açúcar
1/2 xícara de açúcar mascavo
2 colheres de sopa de gengibre ralado
1/2 pimentão vermelho
1/2 colher de chá de canela em pó
2 cravos-da-índia
1 pimenta dedo-de-moça (uso muito mais de uma)
sal

Modo de Preparo: Descasque as mangas e corte a polpa em cubos pequenos. Pique finamente a cebola e o pimentão. Retire as sementes da pimenta e pique-a finamente. Coloque em uma panela o vinagre e o açúcar cristal, o mascavo e misture bem, leve ao fogo até que o açúcar dissolva e acrescente todos os ingredientes. Misture bem e cozinhe em fogo baixo até obter a consistência de geléia fina. Retire do fogo e deixe esfriar. Sirva com carnes aves e curries em geral.

15 de dezembro de 2008

1 de dezembro de 2008

vicky cristina barcelona



acordei feliz porque tinha programa gostoso: filme novo do woody allen. oba! empolgada, resolvi caminhar até o cinema que fica no shopping aqui perto. tudo ia bem, a sala nem estava tão cheia, ninguém com saco gigante de pipoca perto, tudo lindo! as luzes foram se apagando e o filme começou com as fortes cores de Barcelona aparecendo na tela e uma música deliciosa. mas de repente, a sala foiinvadida por centenas de crianças, tudo bem vai, umas trinta. e com elas duas professoras. "_ tudo bem, elas logo vão perceber que entraram na sala errada." ouvi de alguém sentado na mesma fileira que eu. entrei em estado de choque quando entendi que eles estaram na sala para assistir ao filme, (mas que tipo de filme isso não importa!). e ali permaneceriam até o final da sessão. não me dôo com a dificuldade de uma criança de nove anos em conseguir entender ou não um cineasta como W. A, mas era claro que o meu prazer de ver um filme tão fresquinho e me deliciar com as piadas, tiradas e os lindos cenários do diretor que para mim é um dos melhores, isso sim, seria impossível.
sinceramente, não sei o que se passa na cabeça de uma professora que leva crianças de nove anos para assistir a um filme de temática tão adulta e tão distante da realidade em que elas vivem. sofremos, eu, que não desfrutei do filme tão esperado e aquelas crianças que não sabiam como, nem o quê dizer ou gritar naquela sala de cinema.
gente equivocada. af.

" Porque tanto perderse
Tanto buscarse
Sin encontrarse
Me encierran los muros de todas partes"
Giulia Y Los Tellarini