O homem brilha pela ausência
Creio que, das cartas que tenho recebido, a de Jandira é uma das mais interessantes. Ela explica, às primeiras palavras, a natureza do seu drama: “Acontece comigo uma coisa interessante. Brigo muito com Adalberto. E só acho, verdadeiramente, graça nele na sua ausência”. Aparentemente, o caso de Jandira é extraordinário. Uma mulher que prefere o bem-amado longe! Uma mulher que não deseja vê-lo! E, no entanto, este é um caso bastante comum. Direi mais: _ a maioria das mulheres acha mais encanto na ausência que na presença do seu namorado, noivo ou esposo. Absurdo? Paradoxo? Não, nada disso. Pura e simples evidência de todos os dias. E o fenômeno me parece lógico e natural. Senão, vejamos. Nós todos sabemos que os homens amam, inclusive os esquimáus. Portanto, milhões e milhões de homens. Dentro dessa quantidade tremenda _ quantos homens cultos, inteligentes, interessantes? Uma minoria ínfima e irrisória. No caso da população brasileira, por exemplo. Digamos que tenhamos, no Brasil vinte milhões de homens. Seria pedir muito querer vinte milhões de galãs de fitas de cinema. Impossível, absolutamente impossível. Se todo mundo ficasse interessante, haveria uma valorização súbita e irresistível do homem desinteressante. E, por motivo muito simples: é que ele se tornaria raro, excepcional, ultrocotado. Mas, por enquanto, o que existe, multiplicado por não sei quanto, é o namorado ou noivo ou esposo desinteressante. Chegamos, então, a um ponto crucial: que deve fazer a mulher de um cidadão nessas condições? Antes de mais nada, não nos cabe nem o direito de desejar que o homem desinteressante desapareça. Porque assistiríamos a um espetáculo tenebroso; ou seja: o súbito despovoamento do mundo. Logo, ele deve sobreviver. E as mulheres são obrigadas a apelar para esse tipo de homem, porque o outro quase não existe. Conheço mulheres que nascem, criam-se, envelhecem e morrem, sem, jamais, terem visto um indivíduo que, do ponto de vista amoroso, seja ótimo. Muito bem. Digamos que eu me apaixone por um cidadão assim. Não posso achar a mínima graça na sua presença, porque ele é desinteressante. Tenho dois caminhos: ou deixar as coisas como estão, ou romper com ele. Mas romper não resolve nada. Porque deixo um cidadão sem encanto, e vou achar outro, nas mesmas condições (salvo a hipótese, improvável, de uma descoberta sensacional). Que faço eu? Se a presença do meu amado não me empolga, nem nada, apelo para a sua ausência. Recurso infalível! Sob a sua presença, eu vejo como ele é, na realidade. Quero dizer, limitado, sem espírito sem inteligência e, às vezes, feiíssimo. Já na sua ausência, tudo muda. Vejo-o não como ele é, mas como eu o quero, pois o que funciona é a minha livre e criadora imaginação. Componho, para mim mesma, para meu regalo especial, a imagem de um homem fabuloso, que nada tem a ver com meu amado; ou por outra, é o meu amado, mais exaltado, transfigurado, superaperfeiçoado. Eis por quê, na maioria dos casos, os homens ganham tanto com a ausência. O caso de Jandira pode se enquadrar perfeitamente nesses termos. Ela gosta de um homem que, de corpo presente, não a consegue impressionar, não consegue lhe transmitir nenhuma sensação de deslumbramento. Já que ela não deseja acabar com o romance, deve ver o menos possível o seu namorado e procurar valorizá-lo, durante a sua ausência. É a única solução para o caso.
Não se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo. Myrna
Creio que, das cartas que tenho recebido, a de Jandira é uma das mais interessantes. Ela explica, às primeiras palavras, a natureza do seu drama: “Acontece comigo uma coisa interessante. Brigo muito com Adalberto. E só acho, verdadeiramente, graça nele na sua ausência”. Aparentemente, o caso de Jandira é extraordinário. Uma mulher que prefere o bem-amado longe! Uma mulher que não deseja vê-lo! E, no entanto, este é um caso bastante comum. Direi mais: _ a maioria das mulheres acha mais encanto na ausência que na presença do seu namorado, noivo ou esposo. Absurdo? Paradoxo? Não, nada disso. Pura e simples evidência de todos os dias. E o fenômeno me parece lógico e natural. Senão, vejamos. Nós todos sabemos que os homens amam, inclusive os esquimáus. Portanto, milhões e milhões de homens. Dentro dessa quantidade tremenda _ quantos homens cultos, inteligentes, interessantes? Uma minoria ínfima e irrisória. No caso da população brasileira, por exemplo. Digamos que tenhamos, no Brasil vinte milhões de homens. Seria pedir muito querer vinte milhões de galãs de fitas de cinema. Impossível, absolutamente impossível. Se todo mundo ficasse interessante, haveria uma valorização súbita e irresistível do homem desinteressante. E, por motivo muito simples: é que ele se tornaria raro, excepcional, ultrocotado. Mas, por enquanto, o que existe, multiplicado por não sei quanto, é o namorado ou noivo ou esposo desinteressante. Chegamos, então, a um ponto crucial: que deve fazer a mulher de um cidadão nessas condições? Antes de mais nada, não nos cabe nem o direito de desejar que o homem desinteressante desapareça. Porque assistiríamos a um espetáculo tenebroso; ou seja: o súbito despovoamento do mundo. Logo, ele deve sobreviver. E as mulheres são obrigadas a apelar para esse tipo de homem, porque o outro quase não existe. Conheço mulheres que nascem, criam-se, envelhecem e morrem, sem, jamais, terem visto um indivíduo que, do ponto de vista amoroso, seja ótimo. Muito bem. Digamos que eu me apaixone por um cidadão assim. Não posso achar a mínima graça na sua presença, porque ele é desinteressante. Tenho dois caminhos: ou deixar as coisas como estão, ou romper com ele. Mas romper não resolve nada. Porque deixo um cidadão sem encanto, e vou achar outro, nas mesmas condições (salvo a hipótese, improvável, de uma descoberta sensacional). Que faço eu? Se a presença do meu amado não me empolga, nem nada, apelo para a sua ausência. Recurso infalível! Sob a sua presença, eu vejo como ele é, na realidade. Quero dizer, limitado, sem espírito sem inteligência e, às vezes, feiíssimo. Já na sua ausência, tudo muda. Vejo-o não como ele é, mas como eu o quero, pois o que funciona é a minha livre e criadora imaginação. Componho, para mim mesma, para meu regalo especial, a imagem de um homem fabuloso, que nada tem a ver com meu amado; ou por outra, é o meu amado, mais exaltado, transfigurado, superaperfeiçoado. Eis por quê, na maioria dos casos, os homens ganham tanto com a ausência. O caso de Jandira pode se enquadrar perfeitamente nesses termos. Ela gosta de um homem que, de corpo presente, não a consegue impressionar, não consegue lhe transmitir nenhuma sensação de deslumbramento. Já que ela não deseja acabar com o romance, deve ver o menos possível o seu namorado e procurar valorizá-lo, durante a sua ausência. É a única solução para o caso.
Não se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo. Myrna
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