28 de novembro de 2008

O Consultório Sentimental de Nelson Rodrigues

O homem brilha pela ausência

Creio que, das cartas que tenho recebido, a de Jandira é uma das mais interessantes. Ela explica, às primeiras palavras, a natureza do seu drama: “Acontece comigo uma coisa interessante. Brigo muito com Adalberto. E só acho, verdadeiramente, graça nele na sua ausência”. Aparentemente, o caso de Jandira é extraordinário. Uma mulher que prefere o bem-amado longe! Uma mulher que não deseja vê-lo! E, no entanto, este é um caso bastante comum. Direi mais: _ a maioria das mulheres acha mais encanto na ausência que na presença do seu namorado, noivo ou esposo. Absurdo? Paradoxo? Não, nada disso. Pura e simples evidência de todos os dias. E o fenômeno me parece lógico e natural. Senão, vejamos. Nós todos sabemos que os homens amam, inclusive os esquimáus. Portanto, milhões e milhões de homens. Dentro dessa quantidade tremenda _ quantos homens cultos, inteligentes, interessantes? Uma minoria ínfima e irrisória. No caso da população brasileira, por exemplo. Digamos que
tenhamos, no Brasil vinte milhões de homens. Seria pedir muito querer vinte milhões de galãs de fitas de cinema. Impossível, absolutamente impossível. Se todo mundo ficasse interessante, haveria uma valorização súbita e irresistível do homem desinteressante. E, por motivo muito simples: é que ele se tornaria raro, excepcional, ultrocotado. Mas, por enquanto, o que existe, multiplicado por não sei quanto, é o namorado ou noivo ou esposo desinteressante. Chegamos, então, a um ponto crucial: que deve fazer a mulher de um cidadão nessas condições? Antes de mais nada, não nos cabe nem o direito de desejar que o homem desinteressante desapareça. Porque assistiríamos a um espetáculo tenebroso; ou seja: o súbito despovoamento do mundo. Logo, ele deve sobreviver. E as mulheres são obrigadas a apelar para esse tipo de homem, porque o outro quase não existe. Conheço mulheres que nascem, criam-se, envelhecem e morrem, sem, jamais, terem visto um indivíduo que, do ponto de vista amoroso, seja ótimo. Muito bem. Digamos que eu me apaixone por um cidadão assim. Não posso achar a mínima graça na sua presença, porque ele é desinteressante. Tenho dois caminhos: ou deixar as coisas como estão, ou romper com ele. Mas romper não resolve nada. Porque deixo um cidadão sem encanto, e vou achar outro, nas mesmas condições (salvo a hipótese, improvável, de uma descoberta sensacional). Que faço eu? Se a presença do meu amado não me empolga, nem nada, apelo para a sua ausência. Recurso infalível! Sob a sua presença, eu vejo como ele é, na realidade. Quero dizer, limitado, sem espírito sem inteligência e, às vezes, feiíssimo. Já na sua ausência, tudo muda. Vejo-o não como ele é, mas como eu o quero, pois o que funciona é a minha livre e criadora imaginação. Componho, para mim mesma, para meu regalo especial, a imagem de um homem fabuloso, que nada tem a ver com meu amado; ou por outra, é o meu amado, mais exaltado, transfigurado, superaperfeiçoado. Eis por quê, na maioria dos casos, os homens ganham tanto com a ausência. O caso de Jandira pode se enquadrar perfeitamente nesses termos. Ela gosta de um homem que, de corpo presente, não a consegue impressionar, não consegue lhe transmitir nenhuma sensação de deslumbramento. Já que ela não deseja acabar com o romance, deve ver o menos possível o seu namorado e procurar valorizá-lo, durante a sua ausência. É a única solução para o caso.

Não se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo. Myrna

26 de novembro de 2008

quando a vida pesa

eu ainda fico com o leminski: "Peso por peso, prefiro o meu, que, pelo menos, me leva para algum lugar."

21 de novembro de 2008

na casa dos pais


era uma casa muito engraçada
não tinha teto
não tinha nada...

16 de novembro de 2008

a tirania da escova



sempre gostei de cabelos curtos. já tive bem curto qdo criança e depois qdo já estava bem grandinha, demorou, demorou, mas um dia fui lá e dei fim ao cabelão. pronto!! foi uma década (um bom tempo de vida) com cabelos curtos, coloridos, "joãozinhos"... e por aí foi. cansada da mesma cara, ele foi crescendo e ficando bonito. curtia muito os "quase" cachos que ele formava e descobri que o meu próprio e desconhecido cabelo tinha uma tonalidade linda de castanho. aí tudo isso pra contar do dia que ganhei o secador de cabelos. foi presente do lew. lindo! laranja, marca italiana, modelo da década de 60 ou 50, vai saber. acontece que a partir desse dia eu fiz o que não deveria. passei a escovar, cuidar e secar. tudo que torna a vida de uma mulher um inferno! os cabelos foram ficando mais curtos e menos jeitosos. sempre meio torto, meio esquisito. deveria aqui escrever um manifesto: fim ao secador de cabelos!! pros infernos as pranchinhas!!! madeixas soltas jamais serão vencidas pela coisa uniforme do cabelo lisinho!!!!! (ops, sem exageros.)




13 de novembro de 2008

hoje tem baladinha no Vinil



hoje vou pela primeira vez ao 5a. da vitrola no Vinil. tô morrendo de saudade dos esquisitos! ainda não escolhi que vinil levar, mas é um programa imperdível. mergulhem na adegardente do marcustulius e conheçam as esquisitices dos caras.
(algumas horas depois...)
aí que fui almoçar na casa da tia maria e abrindo algumas caixas eu encontrei a caixinha de vinil. oba! a variedade foi tamanha na hora de selecionar (apenas alguns pq ô coisa pesada!) eu fui do jazz de 1940 a caetano com foto show na capa. será?!?!

4 de novembro de 2008

"ranita de ojitos rojitos"














Necesidad de las ranas

Antes que un animal –algo hasta cierto punto inasequible para el limitado discernimiento humano–, la rana es una de las mejores posibilidades de la noche, entendida ésta no con las resonancias románticas del caso sino con la improbable pero cierta neutralidad de su evidente voluntad de escansión.
En la prodigiosa diástole de la oscuridad que sigue a cada día, la presencia de la rana es una pequeña diástole en sí misma, y lo es en los dos sentidos que esta palabra acepta en castellano: licencia poética que alarga la brevedad de una sílaba, movimiento del corazón y las arterias cuando la sangre los penetra.
También la modesta rana contribuye a ese ensanchamiento de lo viviente y a esa prolongación elegantemente forzada de lo fugaz. Y lo hace con su canto, que se opone al optimismo caótico de los pájaros mañaneros y al empeño casi maquínico de las cigarras en su afán de glosar la hora de la siesta.
El canto de la rana no es otra cosa que la afirmación, contrario sensu, de la materia del silencio nocturno y una suerte de expansión ciega de la conciencia del mundo que, cada noche, se dedica impasible a renovar la probabilidad más alta del día de mañana.
Desde luego, la rana no está sola en su cometido: la acompaña el trabajo de cristal en astilla de cada grillo en su porción de mundo, marcando con sus tiempos más dilatados los intervalos en que la rana debe acomodar su métrica de maderas cóncavas percutidas sin otro afán que el de la duración misma del ser.
Y, es sabido, una sola rana no hace la noche: ésta es producto de la innumerable multitud de ranas estratégicamente distribuidas en toda su extensión. La concurrencia de todas esas diástoles diminutas hace posible esa métrica continuamente perfeccionada y misteriosamente constante, y garantiza la imprescindible elongación de lo real en las horas sin luz.
El salto de la rana, su salida o regreso al estanque o la charca, no es producto de su ansiedad ni de ninguna otra necesidad subjetiva sino el modo en que el fenómeno físico del canto como contracara del silencio va corrigiendo sus desviaciones rítmicas, la calidad a veces variable de su timbre, la pérdida de su intensidad opaca, la inestabilidad imprevisible de su altura.
¿Por qué la rana entra y sale del agua? Porque el canto, respaldo del silencio trabajoso e imprescindible que es la noche, es cuestión de humedad. Está hecho de fluidos corpóreos, de precipitaciones, de agua que fluye o se aquieta para crear esa virtud sin remedio que es la inevitable diversidad.

Aníbal Piñeiro, Prosas breves y vanas (1938)

texto extraído da revista
Las Rañas no.4

2 de novembro de 2008

ziza.ru
















jeito muito maluco
de ver e fazer fotografia
entre no ZizA.rU